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TUDO É CÉU

Exposição individual da artista Bia Monteiro

Curadoria: Fernanda Lopes

 

Abertura: 11 de novembro de 2023

Encerramento: 02 de fevereiro de 2024

 

Visitação: 11 de novembro - 02 de fevereiro/2024, quarta à sábado, 12h-17:30h

 

Performance+Poesia: Livia Aguiar e Convidades em 7 de dezembro, quinta, 19h

Conversa com artista e curadora: 2 de fevereiro, sexta-feira, 18h

texto curatorial

Por que olhamos para o céu? Desde a história mais distante, isso que o dicionário identifica inicialmente como “o espaço visível acima do horizonte”, guarda a passagem dos tempos e, com ela, abriga múltiplas possibilidades de leitura. Quando olhamos para o céu vemos e ouvimos diferentes línguas, culturas, mitos, memórias e imaginações, de Ícaro a Galileu, passando por Luiz Gonzaga, Nut e Ewá. Lá estão especializações da ciência, mitologias de todos os tempos, culturas e continentes, importantes passagens da história como as grandes navegações nos séculos 15 e 16 e a corrida espacial no século 20, e também religiões e crenças populares ou pessoais. Tentativas, às vezes objetivas, às vezes mágicas, de entender passado, presente e futuro, além do comportamento das águas, da neblina e nevoeiros e dos seres vivos aqui na Terra (e, talvez, fora dela).

 

Boa parte da produção de mais de uma década de Bia Monteiro se debruça sobre a possibilidade de construção da imagem a partir da presença do corpo no espaço. Uma imagem que não necessariamente é uma fotografia ou um vídeo, podendo se configurar como escultura ou desenho. E um corpo que, mesmo fincado na terra, ainda olha para cima. Os trabalhos reunidos nesta exposição são elementos dessa dinâmica. Feitos em papel artesanal, os três desenhos em nanquim vistos à distância parecem folhas em branco. Vistos de perto, revelam delicadas inserções em formas que em alguns momentos se aproximam de um caráter geométrico/ construtivo, mas em outros pedem as bordas quando o nanquim é absorvido pelo papel. A curta distância também evidencia, ao mesmo tempo, a textura do papel, sutis variações cromáticas próprias do processo de sua constituição, e suas bordas irregulares. Aparentemente aleatórios, são como mapas dividindo em três partes um mesmo céu noturno, fotografado pela artista.

 

No espaço, os totens pessoais de Bia Monteiro também guardam em si uma lógica constelar. As estruturas verticais, com cerca de 1,70 de altura nos fazem lembrar dólmens – antigos monumentos verticais feitos com blocos de pedra, como Stonehenge na Inglaterra e dos Maias, como aqueles feitos para o Kuarup pelas populações do Alto Xingú. Tendo a pensa-los também como espécie de autorretratos da artista, construindo sua presença a partir da articulação de materiais e elementos importantes para falar do rastro da nossa presença no mundo. Materiais que se encontram no presente para falar de passado e futuro, e que ao mesmo tempo se apresentam como lembrança e projeto, esperança e decepções. Alguns, como cabaças, pedras de rua ou lapidadas pelas águas do rio, e peças de madeira, são objetos encontrados pela artista. Outros, são formas projetadas por ela em madeira, cerâmica, bronze, inox polido. Chamam atenção por suas formas, mas também pelo espaço (e o tempo) que se constitui entre elas, evidenciados por suas silhuetas.

 

A presença do corpo e seus limites como possibilidade de medida do espaço também são elementos das fotografias da série Re-medindo a Terra Firme (2018). Nelas vemos como Bia usa o próprio corpo como unidade de medida na Amazônia brasileira. O processo de imersão e reconhecimento dessa outra paisagem se configura também como material de trabalho dessa série. Braços, mãos, dedos, troncos, galhos, raízes se misturam nas fotos em preto e branco, equiparando as presenças do corpo humano e do corpo natureza. Completam a exposição elementos e referências que revelam para o público parte do processo de trabalho da artista. São fotos, slides, desenhos, estudos e cadernos com projetos e anotações, revelando um corpo de trabalho que está além do limite da própria obra

 

Durante as conversas para esta exposição, Bia Monteiro me encaminhou um trecho do livro A vida das plantas, do filósofo italiano Emanuele Coccia: “Afirmar uma continuidade material entre a Terra e o resto do universo significa alterar a própria ideia de Terra. A Terra é corpo celeste, e tudo é céu nela (..). A profundidade são os astros; a Terra e o céu são a extensão infinita de nossa pele”. Vem daí o título dessa mostra (Tudo é céu) e também uma boa resposta para a pergunta levantada no início desse texto. O céu é como uma extensão de nossa pele. Olhamos para ele como olhamos um espelho. Olhamos para cima, em um misto de estranhamento e reconhecimento, como uma maneira de olhar para o que está a nossa volta e, especialmente, para ver melhor o que carregamos aqui dentro.

 

Fernanda Lopes

Bia Monteiro

www.biamonteiro.com

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