Joan Miró “O Nascimento do Mundo”
O tempo, esse elemento efêmero e delicado que nos oprime quando escorre entre nossos dedos.
Um ser se ajoelha, talvez rezando, talvez consertando o aro da roda da bicicleta que lhe deixa acompanhar o tempo, enquanto ele, o tempo, esvai-se como um balão vermelho fugindo aos céus negros e esfumaçados.
O tempo: uma grande neblina fugaz que disfarça o espaço.
Um telhado parece proteger o tal ser ajoelhado para dar-lhe cobertura de um progresso que ele já não mais alcança; o tempo vai mais rápido do que o ser consegue seguir. Ele então vira-se de costas para o balão, perde-o de vista e a matéria preenche seu mundo: seu espaço estacionado no tempo.
Pequenos pontos espalham-se no plano horizontal inferior da tela – no chão; fragmentos da passagem do ser que foram deixados para trás, em outro tempo.
Um tempo que cairá em camadas sobre o telhado e, então, sobre o ser para que permaneça fossilizado em si mesmo.
No canto superior direito da tela uma chuva azul chega de onde o tempo vai seguir; esse balão vermelho que persegue o futuro. Será que isso indica que o que virá é uma esperança de algo que revelar-se-á melhor, uma promessa finalmente cumprida?
Somente o tempo dirá, mas esse ser já não estará presente nesse momento futuro que o balão do tempo incessantemente insiste em perseguir.
Gui Martins Pinheiro, New York, 23 de maio de 2019.
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